quarta-feira, 1 de julho de 2015

Definir quem eu sou.

Afinal, identidade é essencial.

Certo?...

Diz o neurocientista Ivan Izquierdo que "Memória é identidade". Eu já assumo que nem me lembro tanto mais de quem sou hoje, de quem eu era há 5 ou 10 anos atrás. Mas vou tentar reverter isto.

Há até pouco tempo eu me orgulhava realmente de conseguir listar todos os meus "melhores momentos": desde minha infância até experiências da pré-adolescência - porque eu acreditava que manter esta memória me definia ("um dia vou escrever um livro, preciso lembrar dos detalhes" dizia eu, pobre inocente...)

Entretanto, agora, eu sou uma pessoa tão diferente do que eu fui há tempos atrás que pareço até ter me esquecido de quem sou fui. Me sinto a cada dia uma pessoa diferente, e por isto tenho especulado todos os dias tentando encontrar o motivo disto ter acontecido (e se isto realmente aconteceu): eu realmente perdi a memória?

Bom, enquanto escrevo esta publicação, faço meu papel de "stalker" e vasculho minhas publicações antigas do Facebook.


["Facebook" (fa.ce.book etim. feice+buqui): esta ferramenta dosinferno atual onde todos são um pouco filósofos, ativistas-políticos, escritores, críticos, nutricionistas. Onde, por mais que se queira fugir, o mundo está acontecendo atualmente; onde você vê que "caos" e "euforia" não são só termos teóricos que caíram na obsolência; e com tantas opiniões e comentários a gente fica até um pouco atordoado. Esta coisa que não sai do nosso vocabulário diário e que eu terei de explicar aos meus netos um dia, o porquê de ter passado tanto tempo da minha vida nisto...]



Contudo, pra mim, tem também um outro sentido - como eu disse na primeira publicação deste blog (2009): redes sociais me lembram que sempre gostei de diários.


Quer ver? Lá vai:

  • Melhor livro que li: "Cem dias entre céu e mar" - um diário de bordo do navegador Amir Klink (1985).


  • Novela infantil que eu mais gostava: (advinhem...) "Diário de Daniela" (2000).

  • Melhor presente que eu podia receber até pouco tempo atrás: agenda (obrigatoriamente com espaço de sobra pra escrever!)


  • Melhor série/livro de ficção científica: "Star Trek" - em que a narração de toda introdução de capítulo/episódio é um sistemático diário de bordo. 


  • Melhor série infantil: "O mundo da lua" (1990's) - pra quem assistiu, não preciso nem explicar.


Ou seja, eu sempre gostei de escrever (pra mim mesma e, claro, para os arqueólogos que cavassem minha casa daqui uns cem anos descobrissem minha história... #eitabrisa) com detalhes pra que eu pudesse lembrar das sensações depois e pudesse ir acompanhando as mudanças do meu crescimento. E dava certo. Eu lia tudo e me recordava. Comecei a escrever nas primeiras séries do Fundamental e, sempre que eu lia, refletia sobre o meu passado, meu presente (lá com uns 10 anos de idade pra frente) - todos os dias, ou sempre no meu aniversário/ano-novo/natal. Datas e marcos importantes eu dava uma olhadinha pra trás pra ver de onde vim.


Posso me avaliar hoje que estava indo tudo bem, eu era uma criança introspectiva mas tinha vida social, tinha clubinho de amigas que se reunia sempre numa grande árvore da escola com nossas próprias regras e brincadeiras, possuía já minhas paixonites pelos garotos que eu achava serem os mais bonitos, tinha meus momentos perfeitos com minha família, tinha já meus sonhos e fantasias baseadas nos livros e nos filmes que eu assistia, inventava algumas coisas que não existiam (como um carro feito de caixote de frutas, ou um novo sistema de escrita musical - já que eu não sabia ler música e queria fazê-lo do meu jeito).
Na verdade, eu bem que mergulhava e vivia nestas fantasias - toda noite, antes de dormir, eu fechava os olhos e viajava com minha imaginação para os sonhos onde eu tinha o meu "futuro utópico", ouvindo ao fundo as velhas big-bands da rádio Scalla FM...
Não era uma infância perfeita porém, pra mim, "o mundo era belo".

Mas aí, eu cresci.
Aí, percebi que o mundo não é tão belo assim. Que o medo dos nossos pais sobre nós era fundamentado, que coisas ruins aconteciam com todo mundo. Acontecia com as pessoas que eu amava, por mais que eu não quisesse.

Posso dizer que começa aqui minha "fase azul".

[Dou até um suspiro agora ao pensar em escrever esta parte...
Porque, foi em algum lugar desta parte que eu me perdi.]

(cont.)

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